Observatório

- Eu sei disso, estou tentando.- a frustração na voz dele era quase palpável, mas ele de fato estava tentando manter-se mais calmo para Mattheus.- Mas eu não posso fazer isso hoje ou agora. Eu não faço ideia de como fazer, na verdade. Não vão deixar que eu simplesmente a leve, seja com qualquer desculpa que eu possa arrumar. E, sobre fugir, é bem difícil, você sabe como é, Matt.

Ele suspirou profundamente.

- Não paro de procurar pensar em algo. Mas eu preciso de ajuda, mas não quero deixá-la esperar. Ela não pode esperar mais, eu vejo isso também.

- O quê?- quando ele falou sobre o remédio experimental, Riggins quase surtou também.- Eles não podem fazer isso, é fora da lei.

Ele quase parecia inocente naqueles aspectos.
O fato é que ele se via no que parecia um filme de terror e uma das vítimas era a garota que ele mais amava no mundo.
Ele percebeu então, que estava sendo bem inocente. Então abaixou a cabeça e suspirou fundo.

- Tudo bem, eu entendi. Não vou deixá-la aqui nem por mais um dia. Mas eu vou precisar de ajuda, Mattheus.

- Vocês precisam de ajuda?- uma voz soou bem atrás dos garotos. Ali, um garoto de estatura quase igual a de Riggins, vestindo suéteres amarrotados e tendo cabelos loiros surgiu.
Riggins o conhecia, fora ele quem avisara sobre Arya, afinal.- Eu posso ajudar. Eu sei como ajudar. Sei que Arya precisa de ajuda.

- Isso é errado, eu vou acabar com todos eles.- o suspiro dele foi de raiva, e agora ele parecia tão impaciente quanto Mattheus. Contudo, quando o rapaz falou a seguir, a expressão de Riggins se tornou distante, como se ele entendesse a forma que o garoto lhe pedia aquilo.
Ele sentiria ciúmes, mas Riggins não era mal àquele ponto. É claro que sentiu, mas entendia muito bem Mattheus, e conseguia se pôr no lugar desolado que ele estava.

- Eu prometo, Matt. Eu prometo.

O franzir de cenho veio quando ele viu o garoto mudar de um segundo ao outro e agarrar Tate pelo colarinho.

- Ei, pare. Como assim culpa dele? Foi ele quem me avisou que Arya estava aqui. Eu não estaria nem aqui se não fosse por esse cara. Ele me ajudou a entrar com a assinatura de um médico antigo da Arya.

- Não foi minha culpa!- Tate exclamou, sentindo as costas baterem contra a parede. Ele respirou fundo, ouvindo Rig, na esperança de que Matt então o soltasse.- Eu só quero ajudar.- a voz dele ainda parecia mansa.- Arya é minha melhor amiga. Eles vão matá-la, eu sei que vão. Não foi minha culpa, foi o irmão dela, eu pedi que ela me pedisse ajuda caso precisasse, mas ela é teimosa.

Depois dos dizeres de Mattheus, Riggins não pareceu mais preocupado em fazê-lo soltar Tate. Pelo contrário.

- Ela nunca tinha me contado sobre esse cara antes. Estou há quase um mês fora do colegial.- ele estreitou os olhos verdes para Tate.- O que você fez no quarto dela às três da manhã?

Ao se ver completamente encurralado, Tate olhou de um ao outro antes de responder. Ele sabia que Mattheus desmentiria se falasse algo errado.

- Tentei beijar ela, mas ela me bateu e gritou pra que eu fosse embora. Eu sei, eu tentei me aproveitar enquanto você estava fora, mas eu não-...

Ele não pode exatamente continuar a falar quando seu rosto doeu. Foi um soco forte da parte de Riggins, e Tate perdeu o equilíbrio, indo ao chão, o nariz começando a sangrar.
Quando ele se sentiu ser erguido pelos cabelos, aí foi de fato um problema, então ele segurou as mãos de Rig para uma pausa forçada.

- De uma forma ou de outra, vocês dois vão precisar de mim se quiserem tirar ela daí, droga...

Riggins estava mais do que pronto para desfechar outro soco contra o rosto de Tate até que pudesse ver alguns dentes sendo cuspidos, mas as palavras de Mattheus o pararam exatamente quando o Jock levantava novamente o loiro pela gola de seu suéter.

- Você chega perto dela mais uma vez, e eu faço você cuspir as suas tripas.

Tim soltou Tate num empurrão, que fez o loiro se chocar contra a parede.

- Se fez tanto para que eu entrasse aqui, então é melhor colaborar bem para tirarmos Arya.

- ÓTIMO, EU GOSTO QUANDO É VIOLENTO!- disse Tate, em voz alta, num pequeno descontrole, ao ser empurrado, o nariz ainda sangrando.

O loiro pôs uma das mãos no rosto, sujando a manga do suéter de sangue. Ele respirou forte umas três vezes antes de conseguir continuar, olhando de Tim para Mattheus com os olhos estreitos, mantendo a mão sobre o rosto ensaguentado.

- Como você, Mattheus, a maioria dos pacientes aqui não tem uma família que se preze por eles. Então, quando morrem aqui dentro, eles incineram os corpos. Eu sei onde é a passagem para o forno de incineração. E ela tem um túnel pra fora daqui, para o bosque atrás do sanatório. Geralmente está aberto a noite, que é o período em que eles queimam... e eles já tem um corpo para hoje...

- Eu estudei e conheço esse lugar tão bem quanto conheço o que eu tenho no meio das pernas.- ele rosnou aquilo.- Se não temos acesso, então criamos um. É por isso que eu trouxe isso.

Ele puxou a barra do suéter para cima, e uma arma pode ser vista, presa entre sua cintura e o elástico do jeans...

- Uma arma?- Riggins sussurrou aquilo, olhando para os lados, ligeiramente perplexo.- Você tá maluco, cara? A gente não pode sair atirando em todo mundo.

Ele fitou Mattheus.

- Encontramos um jeito sozinhos, por mais que seja difícil. Não podemos deixar esse cara com uma arma aqui.

- Eu não vou atirar em ninguém, droga. Isso é por precaução. Nós apenas temos que induzir os guardas a irem para o armazém, e então trancamos eles lá. Ninguém vai morrer.- Tate tentou dizer, até ver Arya atrás de Riggins.

A voz dele pareceu engasgar por um segundo, e o olhar dele se modificou. Mesmo com o nariz ainda sangrando, ele tirou a mão do rosto, e, enquanto a olhava, seus olhos quiseram marejar.


- Não me encare assim... eu só... eu só quero ajudar... pelo menos uma vez eu quero fazer bem a você.

Ele notou o olhar que Riggins lançou quando Tate falou daquela forma, e então mordeu levemente o lábio inferior.

- Me deixe falar a sós com você, Arya, por favor... vocês dois podem ficar na porta, podem me vigiar, eu não ligo, eu só preciso falar com ela. Você me deixa fazer isso, Arya? Por dois minutos, por favor...

Riggins percebeu a agitação em sua blusa, e se deparou com Arya atrás de si. Ele a abraçou quase de forma imediata, sussurrando:

- Não, eu nunca fico bravo com você, Arya. Nunca.- mas o olhar que ele lançou a Tate era quase como outro golpe no rosto dele.- Eu já falei o que acontece se você chegar perto dela de novo...


Ele se voltou a garota, e passou os dedos por seus cabelos quase brancos.

- Não se sinta obrigada a ir com ele, você não é...

Ele olhou Mattheus ir embora e, com a declaração de Arya, olhou dela para Tate, por fim dando um suspiro, soltando a garota de forma lenta, quase como se não quisesse fazer aquilo.
O olhar que ele lançou a Tate foi trucidante nos olhos claros de Riggins, numa mensagem silenciosa.

- Dois minutos, e é só. Vamos tirar você daqui logo logo.

Tate viu Tim dar as costas, e sentar perto de Mattheus, então.
O loiro suspirou, fungando um pouco, e, meio sem jeito, apenas disse a princípio.

- Obrigado, Arya... por entender.

Ele engoliu em seco, e olhou Arya intensamente.


- Eu só... quero te ajudar. Te tirar daqui, eu sei o que eles estão fazendo com você. Eu quero ajudá-los a te tirar daqui, eles nunca vão conseguir sozinhos. Quero fazer algo bom pra você, Arya... e me desculpar por tudo. Não vou mais perseguir você, eu juro.